sexta-feira, julho 18



No frio das horas volto costas aos ponteiros. Pego nas canas, nos números e nas pedras que contam o tempo e embrulho tudo com um papel fino, feito com pedaços de saudade e de seda.
Agarro o sol que lá rasga as nuvens, e coloco-O debaixo dos pés patinando no calor que só a mim me cabe, só para mim serve e só mesmo a mim interessa.
Os minutos são agora paisagem, os segundos uma miragem, e os números de data transformam-se em simples desenhos de agenda sem ordem, em grandes símbolos sem compromisso ou um pouco de vento.
O tempo não tem cheiro, não tem cor, não tem toque, não tem som. Tem sim o passado o presente e o futuro, o descabido que lhe valha ou o sentido que sempre lhe calha.
É escravo e não detém qualquer liberdade por posse adquirida. Está constantemente a ser contado ou julgado, usado ou planeado, enfim...
Entre o céu e a terra habita também o tempo que carrego no pulso através de engenhos sempre contemporâneos mas no fim, entre o tempo que conto e qualquer fórmula de O observar encontro um formato para o meu tempo.
Mutação ou constante movimento?

A seda e a saudade em pedaços, dão embrulho ao tempo. Colocam as pedras no seu lugar e os números também.
Agora encosto as canas numa espécie de base onde os ponteiros contam o famoso tempo que simplesmente me limito a festejar.