domingo, junho 9


Estranha esta displicência da minha carne, do meu motor. 
Com desenhos de uma só cor quero informar-me constantemente acerca das minhas vontades, e quer parecer-me, que neste corpo isso é possível!
O corpo fala-me em tons de vermelho arredondado quando a minha mente não quer, quando o raciocínio se combate pela razão e não pelo sentimento. Quando mais ainda, o próprio sentimento não vale mais que pedaços de memória ou um simples estado de espirito. Não é porque queira, não é porque me calha em apetite e não é, porque estou em devaneio espiritual comigo mesmo.
Será pelo não trivial do hoje, que neste bloco social escrevo sobre este meu assunto.
Será pelo livro aberto e pelos Macacos do Meu Nariz mais ou menos reservados, que respiro neste meu canto não me querendo descuidar.
O cheiro depende do Nariz.
O Nariz da máquina,
E a máquina de mim mesmo
Viajo para um patamar em que estampo na pele e para sempre, aquela mensagem de que me quero fazer recordar todos os dias. As histórias e contos imortais.
Os rabiscos no corpo podem ser representações de um presente mas também de um passado. Descrever uma razão, um pensamento, uma fórmula, mas também um significado.
 E desenho? Tatuagens nos corpos!
Descobri porém, que estas também podem ser um caminho para um início ou para um fim quando penso e faço amor com este meu motor.
Eu prefiro pensar que tudo é novo e situa-se na casa da partida e que não existe sequer lugar, para a casa da meta. Que tudo é novo e não uma meta do que quer que seja. Isto até pode ajudar-me a conviver com o passar da idade J.
Estou portanto no ponto de partida para algo.
Quero sair da casca, pegar na jangada da vida e por sorrisos maiores partir nesta aventura com desenhos agora no meu corpo.
É para mim um recordar de vontades que tiro do baú, continuando a lutar na casa da partida e desenhando com os olhos espetados no corpo, os sonhos que persigo.

 Nada é inócuo, nada é em vão e nada, esquecerei. 

segunda-feira, junho 3

Quinta Braancamp - Barreiro.

A falta de estima por lugar como este é simplesmente devastadora.
A fotografia saiu-me em silhueta, desprovida de cor e imenso branco para pintar e sonhar.

É mesmo um paraíso, um património de nobres falecidos de alguma coisa!

Sei de quem é este monte gigante que tanto acumula histórias como acumula entulho. Neste lugar onde entrei sem qualquer reserva talvez por coexistir com o abandono patrimonial que vejo na urbanização em que vivo, impressionei-me com fantasias  e claro, tinha de entrar e fazer uns cliques. Qualquer mortal queria ali viver se isso lhe fosse permitido. 

Desencorajo-me quando o destino desta esbelta Braancamp mais parece estar traçado para o seu desaparecimento. Acredito que poucos anos bastam para sabermos qual o desfecho de toda aquela construção que em tempos longínquos criara bichos da seda para muito têxtil e ainda fazia suar a todo o vapor uma indústria com larga escala de cortiça, actividade esta que  abonava por estas bandas e que hoje os caminhos escolhidos foram matando. 
Uma quinta que vive agora o seu quarto século vai colecionando betão parecendo-se mais com uma pedreira e uns montes de erva. É profundamente intrigante deparar-me com o abandono abusivo que existe dentro das cidades em lugares que são portadores da identidade de um povo, da sua cultura, saberes e conhecimentos. O património cultural é assim condenado pelo próprio proprietrio, donos tipo barrigudos do capitalismo. 

Já existem estudos, debates, conversas com a política e opiniões diversas que elevam este grande canto do Estuário do Tejo a um património de interessa geral mas parece que o BCP (actual proprietário) não tem qualquer projecto para esta quinta, a não ser o sau deterioração. 
Tal património que é de privados, um banco neste caso, está condenado a lágrimas de cimento e muita pedra!