Uma descoberta importante!
Hedônico é a
primeira palavra que me apraz para este SALTO mental.
Convicto de
que sou mais um numérico nada genérico, neste portugalex em sociedade global –
coberto de estímulos e gritarias, consumismo de alto nível numa constante reunião
de pessoas – expresso-me.
Separar o
joio do trigo é uma arte do catolicismo se se quiser mas, separar aquilo que somos e temos e tentar chegar a
uma realidade que nunca experienciamos mesmo sabendo que ela existe, é igualmente
uma arte mas mais difícil de atingir.
Não me tinha
nunca imaginado com total tempo para mim.
Nunca me
tinha sentido fora da tal sociedade global em que como, bebo, fumo e vivo.
Esta foi a
minha viagem ao SALTO, uma viagem de emoções e mil sensações, umas quantas
estranhezas e muitas destas de entranhar.
O SALTO é um
lugar grande, alto! Um monte de Alguém especial.
Não é tão
diário quanto desejava, recordar os momentos em que estive definitivamente
comigo ao longo desta minha jovem idade. Os sítios e as gentes! Aquele estar
concentrado em apenas respirar, desprovido de qualquer estímulo social, esse
compromisso com o “bebe e cala-te” normal que se tem vivido neste país
ultimamente. Não menosprezo a forma como vivo, reconheço-a até como a fórmula única
de viver e na verdade sempre foi a que me causou mais felicidade por acreditar
nela e nela me inserir. Acredito e mais agora, que no experimentar pode estar uma
maior oportunidade de escolha e de felicidade. Como diz uma Profª minha do
politécnico, tudo tem política. Mas voltemos ao SALTO.
Este lugar
trouxe-me aqui porque me ajudou a reflectir sobre a funcionalidade da vida
enquanto bicho deste planeta.
Depois de
uma “auto-estrada” de comboio carregada de desertificação, casas e estações
abandonadas, chego a este monte que se situa à beira do Algarve.
Apressei-me,
tinha de trocar de roupa. Chegava completamente marcado e identificando-me como
se a minha figura falasse. Marcado pelos tais estímulos de citadino. A roupa de
marca tipo INDITEX, a música “de marca” sei lá, de uma produtora qualquer, os ténis
de marca americana, coisas para ler de menos marca, máquina fotográfica sempre útil,
óculos de sol de marca italiana, lavado pelo Município da Moita e BP, e
perfumado pelas marcas de feira ou não... Com aquele tempo conjuntural
abundante do desemprego, com coisas aborrecidas de casa, trabalho e a falta grutesca
deste que o país sente, escola e tudo o que isso acarreta, contas que são
contas e na verdade só me faltava uma prancha gigante na testa a dizer Bem-Vindo
ó da cidade!
Precisava
mesmo de me trocar e o calçado também!
Agora temos
aqui um vale, ali um monte, aquela planície, uma sombra, charcas e bom trabalho
de campo.
Os dias
longos que permitem contar os segundos do sol e dar uma volta com ele. Existe o
tempo do tempo. O tempo sem nada e só comigo, o tempo que não é roubado e
violado pelo formato de vida das cidades.
Para mim é uma
sensação bela e estranha, em qualquer momento, viajar por tamanha distância. A
distância que fica entre o repleto de estímulos a que estou habituado por um
lado e obrigado por outro, e o todo grandioso tempo que devia ser sempre para mim.
E agora? O que
irás fazer durante 24 horas, sete oito dias? Agora que estás só com esse tempo,
todo teu?
Perguntas
para mim mesmo.
Vou ali
cortar umas silvas, cavar o terreno, plantar coisas boas, tratar da rega, de
esgotos, fotografar, nadar em charcas, brincar com sapos, voar com abelhas e
pardais. E que tal preparar uns barrotes de eucalipto para montar um tipi
futuro lar para uma família, entre outras actividades sociais, outras
aprendizagens… Bem alguma coisa tenho que fazer porque este lugar é também
assim.
Caí em mim… Não
que todas estas coisas não eram boas!
O meu pensamento
situava-se precisamente no continuar a ser-se violado por obrigações e levar os
meus dias a pensar em tudo o que tenho para fazer, alguma coisa tenho de fazer,
e nunca pensar verdadeiramente em mim ou no formato em que vivo.
Naquela simples
forma de viver em, tudo é meu e para mim, para além de gratuito no verdadeiro
sentido da palavra. Nunca sentir que é um problema o não ter ou não querer. Não
pensar em tenho de fazer ou não tenho de fazer e por fim acreditar que a maior
valia que a vida nos pode dar, é o nosso próprio ser, aquilo que este pode
fazer por si e dar a si de forma independente. Concretamente o que é que eu
preciso e porque preciso.
Em que
formato vivo e quero viver? Sistemas e subsistemas!
Quanto
consigo e o que faço para o conseguir!
Claro que
tudo fazia com gosto e vontade. A beleza do que estava a viver assim me
obrigava e o SALTO entregava-me na cara muita actividade e ideias aos molhos.
Molhos como os campos, como o verde que por ali habitava e os sorrisos e cantos
que ia descobrindo.
Não querendo
que este seja um post que fala de doutrinas ou filosofias de vida, confirma-se
o quanto foi brutal ter experienciado uma outra forma de estar comigo mesmo
neste mundo.
Foi como
voltar a ser criança. Imagine-se uma data em que todo o tempo que temos é para
brincar e crescer. Todas as horas são para nós mesmos e todo o raciocino se
concentra naquilo que queremos. O desgaste natural do respirar acaba na cama
não dando lugar sequer para pensar no que vestir amanha!
O que é a
propriedade, o materialismo, o comodismo, regras e dores de cabeça que o
formato em que vivo me obriga?
O que é o trabalho,
o compromisso, o dever, a obrigação ou espécies de responsabilidade?
O que são os
estímulos e o que é tudo isto que a sociedade/cidade nos emana constantemente?
E por fim o
que é estar só connosco, uma casa no lago com sapos e outros bichos a
assistirem a um belo zunido de arpa e ao vivo, ter as horas do dia no bolso, ter
uma wc a seco e plantas que falam connosco e ter um “apetece-me constante” na
ponta do cérebro só para mim?
O SALTO é de
facto um lugar onde o tempo que é nosso existe realmente.
É contudo um
lugar onde o tempo é lugar.
Bless this place and your people!
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