terça-feira, maio 21



Uma descoberta importante!


Hedônico é a primeira palavra que me apraz para este SALTO mental.
Convicto de que sou mais um numérico nada genérico, neste portugalex em sociedade global – coberto de estímulos e gritarias, consumismo de alto nível numa constante reunião de pessoas – expresso-me.
Separar o joio do trigo é uma arte do catolicismo se se quiser mas, separar aquilo que somos e temos e tentar chegar a uma realidade que nunca experienciamos mesmo sabendo que ela existe, é igualmente uma arte mas mais difícil de atingir.
Não me tinha nunca imaginado com total tempo para mim.
Nunca me tinha sentido fora da tal sociedade global em que como, bebo, fumo e vivo.
Esta foi a minha viagem ao SALTO, uma viagem de emoções e mil sensações, umas quantas estranhezas e muitas destas de entranhar.
O SALTO é um lugar grande, alto! Um monte de Alguém especial.
Não é tão diário quanto desejava, recordar os momentos em que estive definitivamente comigo ao longo desta minha jovem idade. Os sítios e as gentes! Aquele estar concentrado em apenas respirar, desprovido de qualquer estímulo social, esse compromisso com o “bebe e cala-te” normal que se tem vivido neste país ultimamente. Não menosprezo a forma como vivo, reconheço-a até como a fórmula única de viver e na verdade sempre foi a que me causou mais felicidade por acreditar nela e nela me inserir. Acredito e mais agora, que no experimentar pode estar uma maior oportunidade de escolha e de felicidade. Como diz uma Profª minha do politécnico, tudo tem política. Mas voltemos ao SALTO.
Este lugar trouxe-me aqui porque me ajudou a reflectir sobre a funcionalidade da vida enquanto bicho deste planeta.
Depois de uma “auto-estrada” de comboio carregada de desertificação, casas e estações abandonadas, chego a este monte que se situa à beira do Algarve.

Apressei-me, tinha de trocar de roupa. Chegava completamente marcado e identificando-me como se a minha figura falasse. Marcado pelos tais estímulos de citadino. A roupa de marca tipo INDITEX, a música “de marca” sei lá, de uma produtora qualquer, os ténis de marca americana, coisas para ler de menos marca, máquina fotográfica sempre útil, óculos de sol de marca italiana, lavado pelo Município da Moita e BP, e perfumado pelas marcas de feira ou não... Com aquele tempo conjuntural abundante do desemprego, com coisas aborrecidas de casa, trabalho e a falta grutesca deste que o país sente, escola e tudo o que isso acarreta, contas que são contas e na verdade só me faltava uma prancha gigante na testa a dizer Bem-Vindo ó da cidade!
Precisava mesmo de me trocar e o calçado também!
Agora temos aqui um vale, ali um monte, aquela planície, uma sombra, charcas e bom trabalho de campo.
Os dias longos que permitem contar os segundos do sol e dar uma volta com ele. Existe o tempo do tempo. O tempo sem nada e só comigo, o tempo que não é roubado e violado pelo formato de vida das cidades.
Para mim é uma sensação bela e estranha, em qualquer momento, viajar por tamanha distância. A distância que fica entre o repleto de estímulos a que estou habituado por um lado e obrigado por outro, e o todo grandioso tempo que devia ser sempre para mim.
E agora? O que irás fazer durante 24 horas, sete oito dias? Agora que estás só com esse tempo, todo teu?
Perguntas para mim mesmo.
Vou ali cortar umas silvas, cavar o terreno, plantar coisas boas, tratar da rega, de esgotos, fotografar, nadar em charcas, brincar com sapos, voar com abelhas e pardais. E que tal preparar uns barrotes de eucalipto para montar um tipi futuro lar para uma família, entre outras actividades sociais, outras aprendizagens… Bem alguma coisa tenho que fazer porque este lugar é também assim.

Caí em mim… Não que todas estas coisas não eram boas!
O meu pensamento situava-se precisamente no continuar a ser-se violado por obrigações e levar os meus dias a pensar em tudo o que tenho para fazer, alguma coisa tenho de fazer, e nunca pensar verdadeiramente em mim ou no formato em que vivo.
Naquela simples forma de viver em, tudo é meu e para mim, para além de gratuito no verdadeiro sentido da palavra. Nunca sentir que é um problema o não ter ou não querer. Não pensar em tenho de fazer ou não tenho de fazer e por fim acreditar que a maior valia que a vida nos pode dar, é o nosso próprio ser, aquilo que este pode fazer por si e dar a si de forma independente. Concretamente o que é que eu preciso e porque preciso.
Em que formato vivo e quero viver? Sistemas e subsistemas!
Quanto consigo e o que faço para o conseguir!
Claro que tudo fazia com gosto e vontade. A beleza do que estava a viver assim me obrigava e o SALTO entregava-me na cara muita actividade e ideias aos molhos. Molhos como os campos, como o verde que por ali habitava e os sorrisos e cantos que ia descobrindo.
Não querendo que este seja um post que fala de doutrinas ou filosofias de vida, confirma-se o quanto foi brutal ter experienciado uma outra forma de estar comigo mesmo neste mundo.
Foi como voltar a ser criança. Imagine-se uma data em que todo o tempo que temos é para brincar e crescer. Todas as horas são para nós mesmos e todo o raciocino se concentra naquilo que queremos. O desgaste natural do respirar acaba na cama não dando lugar sequer para pensar no que vestir amanha!
O que é a propriedade, o materialismo, o comodismo, regras e dores de cabeça que o formato em que vivo me obriga?
O que é o trabalho, o compromisso, o dever, a obrigação ou espécies de responsabilidade?
O que são os estímulos e o que é tudo isto que a sociedade/cidade nos emana constantemente?
E por fim o que é estar só connosco, uma casa no lago com sapos e outros bichos a assistirem a um belo zunido de arpa e ao vivo, ter as horas do dia no bolso, ter uma wc a seco e plantas que falam connosco e ter um “apetece-me constante” na ponta do cérebro só para mim?

O SALTO é de facto um lugar onde o tempo que é nosso existe realmente.
É contudo um lugar onde o tempo é lugar.   
Bless this place and your people!
Beijokas e obrigado pela paciência.   










 


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