Será pelo vazio deste lugar ou pela paisagem que me faz parecer tão pequeno
quanto um suspiro?
Irei descobrir, os motivos vão-se
transformando em objectos.
Este cérebro tem o desplante de
passar horas a fio junto ao mar mergulhando-se em salpicos de acontecimentos,
vontades e desejos, e não admite qualquer licença ou ordem que o impeça de
trabalhar o tempo, no tempo e pelo tempo.
O espelho está montado. Cai luz na ponta
mais a litoral da Lagoa de Óbidos.
Estas riscas amareladas que pintam a
água salgada nesta noite gélida, conduzem-me até à outra margem.
Oiço o mar! O mar que fica entre nós,
o nós da Foz e o nós do Bom Sucesso.
A brisa estende-se pela areia e pouso
todo o meu corpo neste lugar silencioso onde as palavras do oceano são o único ruído
nos meus ouvidos. Assim me conforto com esta paisagem.
Também as disputas animalescas que
ali se travam e o zunido da areia voadora, fazem-me sentir livre, preenchendo o meu espaço interior com murmurinhos
pessoais e vivências tão contemporâneas quanto as horas que trago no pulso.
Bem, a verdade é que distância entre
margens aperta-me o pescoço.
É curta!
É tão igual a um último plano numa
figura geométrica que a minha mente fotografa e na mesma tenta tocar a todo o
momento.
Apraz-me a sensação desta ondulação e
arrefecidas que estão as minhas palavras, os meus gestos e todo o tempo que me
parece inesgotável.
A noite leva-me a acreditar que também
naquele Bom Sucesso ao longe, existem vozes vindas de bichos iguais ao meu ser,
campos de verde e castanho e rugas que brincam com a pele jovem de outras gerações.
Cada vez que vislumbro aquela encosta,
a espuma branca do mar lembra-me que por ali paramos, esbarrando em rochedos de
um mundo que me é exterior e que na mesma desconheço.
Este sistema de leis que causam a
distância e criam o lugar, torna-me num sociopata de mim mesmo mas também, um
feliz ser que se dá por contente ao contemplar a imensa paisagem que está mesmo
à sua frente.
E lá vou divagando por cima dos meus
ombros…
Os sentimentos não são mais que
formas que desencorajam os Homens em momentos tão específicos.
Estou sentindo…
Estes deixam em mim um horário vital
e aquela responsabilidade sarcástica que devo ter sempre comigo mesmo. Pegam no
meu corpo como se se tratasse de uma marioneta e obriguem-me a gestos físicos e
psicológicos que balanceiam este corpo, neste lugar.
São também os sentimentos, fórmulas
cravadas através de momentos que dão justificação a tantos comportamentos,
desencadeando-os quer de forma natural quer de forma partilhada, quer por
vontade própria quer por vontade alheia.
Descobri ainda em adolescente que o
sentir tem aquela força atómica que por vezes nos rouba a inteligência e não se
incomoda com razão que seja.
Assim penso, que existe a razão dos
Homens, existe a fé dos Homens e existe a diarreia mental que não sabe o que é
a razão e para que serve esta.
A paisagem e o simples estar neste lugar,
abre-me a possibilidade para o tal rebuliço de cabeçada, ora não fosse Sucesso
parte do nome da outra margem e a falsidade um mal constante na vida que rodeia
o ser-se em todos os mundos.
Bem-vinda Foz.
Bem-vindo Nadadouro e bem-vindo este lugar,
que guardarei para todo sempre.
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